Júnior Rossi ou Júnior Masher tem 46 anos, é baterista e vocalista da banda de grindcorenoise Masher. Trabalha como eletricista de manutenção em uma empresa de Amparo/SP onde também reside. É casado e tem um filho de 19 anos. Seu hobby atual, além de fazer e escutar barulho, é a fotografia, adora registrar animais e a natureza. A banda é como um filho para ele, faz parte de sua vida já faz um bom tempo. Procura usá-la como uma arma para desconstruir conceitos, regras e leis injustas através das letras e da violência de sua música, que está mais para anti-música.
Saudações grande Júnior Rossi, muitos anos de contato não é meu amigo? Primeiramente agradeço imensamente por aceitar participar desta entrevista e colaborar com as discussões propostas pelo Ocupa Noise Guerrilha Zine.
Júnior: Grande Wescley, boas
lembranças das cartas e tape trades de um tempo que não voltará mais .... Quem
tem que agradecer sou eu e o Masher por ceder espaço em seu trabalho para expormos
nossas ideias. Desde já, desejo muito êxito e vida longa ao seu zine, e todos
os seus projetos, barulhentos ou não, pessoais ou profissionais. Grande abraço.
Agradeço querido e
desejo vida longa ao grande Masher. Bom, algo que penso ser interessante para
começo de conversa, ou seja, pergunta que faço para todos os entrevistados
aqui, como se deu seu primeiro contato com o underground D.I.Y. punk/metal e
como ele afetou e afeta sua vida cotidiana?

Quase intacta mesmo,
cada dia mais surdo e agressivo (risos). Hoje, com a facilidade de acesso à
internet, com a difusão das redes sociais, qual a importância dos zines,
webzines para o underground?
Júnior: A importância que
sempre tiveram, levando informação para um público mais específico, para
pessoas que de uma certa maneira já estão na mesma dimensão. Enquanto que a
internet em si (facebook, youtube, instagram) levam informação a pessoas que
não entendem o significado do underground, logo, não conseguem absorver o
conteúdo. O lado bom é que hoje essas ferramentas também podem ser usadas para
levar o conteúdo para as pessoas certas, exatamente como você e outros amigos
estão fazendo, a divulgação para o público que tem sangue underground nas veias.
Longa vida aos zines, em todas as suas formas!
Imprensa marginal escoando
sempre (risos). Bem, agora gostaria que você falasse um pouco sobre a banda
Masher. Faça uma pequena biografia destacando a importância da mesma para sua
vida.

Vegetarianismo,
fanzines, gigs, bandas, anarquismo, punk, poesia, existência etc. Gostaria que
você discutisse um pouco sobre isso.
Júnior: Eu
fui vegetariano por quase 15 anos, e a pouco mais de 9 voltei a comer algumas
coisas como mortadela, bacon, salame, os embutidos. Foram 15 anos maravilhosos,
mas com toda dificuldade para se manter fui perdendo a luta, correria do dia a dia.
Ainda quero voltar a ser vegetariano, hoje em dia temos mais opções, inclusive
industriais, é um estilo de vida que faz muito bem, e nos faz sentir em paz com
os animais. Fanzines sempre estiveram presentes em minha vida, no começo eu
fazia um chamado Power Masher juntamente com meu amigo Glauco (RIP). Mais tarde
eu criei um mais voltado as bandas noise, crust, punk, grindcore chamado Save
Our Noise. Lancei 5 edições ainda na era da datilografia. Também é algo que
pretendo reativar a qualquer momento, inspirado por amigos que também voltaram
a fazer zines em papel. Zines são muito importantes para o underground, torço
para que cada dia mais outros zines voltem a ativa e continuem revolucionando a
cena e inspirando outras pessoas. E as gigs hein? Apesar de ter passado por
alguns perrengues a maioria das gigs com o Masher foram incríveis, sempre nos
trazendo novas amizades e novas ideologias, infelizmente nos dias atuais não
existe mais aquela energia contagiante, aquela cooperação e respeito entre as
pessoas. E felizmente, ainda temos alguns fests que ainda resgatam esses bons
tempos e nos faz sentir em uma festa familiar, com ótimas bandas e muito
barulho. Sobre o anarquismo, embora nunca tenha pertencido a qualquer grupo,
sempre fui simpatizante de muitas ideias, e apoiador de muitos projetos e bandas.
Hoje vejo que o anarquismo perdeu muita força, pelo menos não tenho visto mais
eventos e encontros como nos anos 90. Da mesma forma, não tenho visto muitos
eventos punk como antes, e muitos dos que se rotulavam punks, se perderam pelo
caminho, infelizmente, muitos não são levados a sério com o cú cheio de pinga e
drogas, não creio que seja isso que muitos punks queriam. O punk não deveria
ficar apenas nas canções e no visual. Ouve-se dizer que fulano era punk. Para
mim não tem dessa de era, daí a importância de antes de se assumir ter a
consciência de que é aquilo que você deseja para sua vida toda, de ser honesto
consigo mesmo. Motivos pelos quais nunca me rotulei como punk ou anarquista.
Não digo que você deve carregar a sua cruz pelo resto da vida, acho que todos
têm o direito de mudar, mas acredito que uma decisão tem que ser tomada com consciência
e sabedoria, e sobretudo paixão. Sou
um admirador de poesias, em meus zines eu sempre abria espaço para amigos que
enviavam suas poesias. Já para escrever, não levo jeito, apesar que em 1995, em
um show nosso em Bragança Paulista uma garota que estava vendo o show comentou
com um amigo que eu era o poeta dos anos 90! Kkkkkk. Nesse show nosso
repertório era baseado na demo “The end of inequalities”, os sons eram bem
curtos, e entre os sons eu comentava sobre as letras. Bons tempos de poeta (risos).
E isso eu acho, nossa existência é uma eterna luta, eu gosto de fazer as coisas
que me dão prazer, mas entendo que muitas vezes somos obrigados a fazer coisas
que odiamos para existirmos. A existência as vezes tem um preço alto, mas quem
quer existir tem que pagar esse preço.
Poeta sim, por que não? Amigo,
sei que você lançou um livro falando sobre sua vida com a banda, não li o mesmo, ainda, porém sei que você escreveu algo sobre a importância que o
underground teve em um período complicado da sua vida. Você poderia falar sobre
isso?

Já separa uma cópia
para mim, por favor (risos). Além da banda, você está envolvido com outros
projetos ligados ao underground? Fale um pouco como é seu cotidiano.
Júnior: Não amigo, no momento
nenhum projeto além da banda. Mas como disse, pretendo reativar meu selo
DESTROY MUSIC NOW e meu zine SAVE OUR NOISE. Só não sei quando heheheh. Meu
cotidiano é bem sedentário, além do trabalho faço alguns afazeres domésticos para
ajudar minha esposa. Cuido de meus animais (uma gata e um cão) e quando sobra
um tempinho faço algum vídeo idiota para meu canal do youtube. Gosto muito de
edição de vídeos e fotos e também gosto muito de fazer silkscreen, de vez em
quando faço algum novo visual para a banda. Exercícios e caminhada que é bom, nada
ahahhaah... Aliás, taí uma coisa que eu preciso achar tempo para fazer, não sou
mais um adolescente, precisamos cuidar da saúde!
Underground punk/metal,
moda ou estilo de vida?
Júnior: Sempre estilo de vida!
Moda vem e vai, mas o estilo de vida fica.
O que pode o punk?
Júnior: O punk poderia mudar
o mundo, poderia transformar pessoas e suas vidas, poderia revolucionar o
cotidiano.... Poderia sim.

Júnior: Acho que acima de tudo, a liberdade, mesmo que ela pareça utópica, o sentimento de liberdade faz uma revolução na vida de qualquer um, sentimento esse que você encontra somente nessas vivências do mundo underground. Nem todos podem sentir isso, se você estiver no meio underground e não se sentir livre, você definitivamente não esta no verdadeiro underground ou está cercado por pessoas idiotas que se dizem underground e de fato nunca foram. As vivências mudam suas perspectivas sobre tudo, inclusive sobre pessoas.
O que ficou do punk?
Júnior: Infelizmente só o visual.
Bom, última
pergunta, clichê do zine. Você ficou sabendo que um imenso meteoro vai cair no
planeta terra e destruir tudo, diga os três últimos plays que você ouviria?
Júnior: Vixe
cara, depois de uma notícia dessa eu não teria nem cabeça para pensar nos
discos ahahahah, ia sair correndo para debaixo da cama como fazia minha cachorra! Mas, supondo-se que o impacto estivesse
programado e sobrasse um tempinho, eu iria escutar o Aces High do Iron Maiden,
você sabe, o primeiro disco a gente nunca esquece; o Antes do Fim do Dorsal
Atlântica (bem convidativo hein ahahah) e o Tente Mudar o Amanhã do
Cólera. Se sobrasse mais tempo ainda, o
Schizophrenia do Sepultura e o Crucificados pelo sistema do RDP. Um abração aí para
você meu amigo, muito obrigado pela entrevista, muito êxito com seu zine e seus
projetos!
kkkkkkk, ótima resposta Júnior.
Facebook.com/mashergrindnoise
Youtube.com/destroymusicnow
kkkkkkk, ótima resposta Júnior.
Facebook.com/mashergrindnoise
Youtube.com/destroymusicnow
Obs: Imagens cedidas e autorizadas pelo entrevistado.
Puxa ficou muito massa seu trampo Wescley, agradeço mais uma vez pela força e amizade, abraço e muito êxito com o zine e todos seus projetos !
ResponderExcluirEu que agradeço pela força e dedicação meu querido. Noise sempre hehehe.
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