Luís Mosh tem
48 anos, conhecido no underground por suas atividades com o extinto zine
Abdução Extrema, seu canal Brutal Alien Vídeos no youtube e seu selo Brutal
Alien Records. Também organiza o Brutal Alien Benefit Fest...
Saudações grande amigo Luis Mosh!!! Agradeço imensamente por participar desta entrevista e colaborar com as discussões propostas pelo Ocupa Noise Guerrilha Zine.
Salve Wescley! Eu que o
agradeço pelo interesse.
Bem, para começo de
conversa, uma pergunta que faço para todos os entrevistados aqui: como e quando
foi seu primeiro contato com o underground D.I.Y. punk/metal?
Que eu me lembre,
comecei a gostar de Rock em 1982, influenciado pelas propagandas do cigarro
Hollywood que passavam na TV e que tinham algumas músicas legais como “Eye of
the Tiger” do Survivor, “Play the Game Tonight” do Kansas e a minha favorita
“Breaking All The Rules” de Peter Frampton, essa definitivamente me abriu as
portas para o mundo do Rock! Depois disso, em 1983, um colega me emprestou uma
fita k7 original de “Creatures of the Night” do Kiss, que serviu para
solidificar meus primeiros passos dentro desse universo. Aos poucos fui
conhecendo e começando a gravar fitas k7 com AC/DC, Scorpions, Nazareth, Quiet
Riot, Iron Maiden... Em 1984 minha mãe me deu de presente o meu primeiro disco
de Rock: “The Works” do Queen, depois ganhei “Metal Health” do Quiet Riot.
Finalmente em 1985 tive meu primeiro contato com o Underground, quando um
colega mais velho me mostrou uns discos: “Seven Churches” do Possessed e “Hell
Awaits” do Slayer... Cara, quando ouvi o som “Pentagram” com aquela fudida
introdução eu pirei! O mesmo com aqueles riffs iniciais de “Hell Awaits”... que
peso. Logo conheci “Sentence of Death” do Destruction, “In the Sign of Evil” do
Sodom, “Endless Pain” do Kreator, “Power from Hell” do Onslaught e depois disso
as coisas foram só piorando! Mas foi em 1987 que comecei a ter meus primeiros
contatos com o Hardcore/Punk com bandas como Lärm, Heresy, Varukers,
Pandemonium, Wretched e Napalm Death!
Sentence of Death”, sem
dúvida é um álbum fantástico e transformador! Qual a importância do underground
punk/metal para sua vida?

Underground é vida!!!
Acho importante problematizar como ele afeta diferentemente a vida das pessoas.
Sendo assim, o que pode o punk/metal como resistência diária?
Quando se fala em
resistência diária, imagino que seja resistir e combater tudo aquilo que nos
aflige ou tudo aquilo que somos contra, e a lista é longa: discriminação
racial, homofobia, feminicídio, fascismo, nazismo e tantos outros ismos, além
do Estado, das taxas abusivas impostas pelo Estado, etc. Sinceramente não
acredito que o Metal / Punk possa muita coisa como resistência diária, pois
tudo o que citei ainda existe e dificilmente algum dia irá deixar de existir,
infelizmente. Somos uma minoria e dentro dessa minoria nem todos fazem algo de
efetivo para combater e resistir a alguma coisa, muita gente aí só de mimimi
nas redes sociais, causando e querendo aparecer, e muitas vezes acabam se
enquadrando justamente naquilo que dizem combater. Portanto, efetivamente
falando e até onde sei, pode pouca coisa ou quase nada. Me diga você alguma
mudança, alguma conquista relevante obtida por essa resistência diária.
Depende, gosto muito de
pensar na sua potência micropolítica de transformação. Para mim ele é uma arma,
melhor, uma ferramenta de combate, de luta cotidiana, de resistência contra as
subjetividades impostas. Contra a dominação, contra o controle diário macro e
micro. Você mesmo destacou muito bem: “imagino
que seja resistir e combater tudo aquilo que nos aflige ou tudo aquilo que
somos contra, e a lista é longa: discriminação racial, homofobia, feminicídio,
fascismo, nazismo e tantos outros ismos [...]”. Acho que
ainda estamos muito presos no que se refere às grandes mudanças, às
grandes revoluções, às receitas, às formas. Underground pode ser problematizado
como uma estética da resistência cotidiana. Bom, seguindo com mais
potencialidades, gostaria que você falasse um pouco sobre vegetarianismo,
veganismo, fanzines, gigs, bandas.
vegetarianismo/veganismo: eu acho que documentários como Terráqueos (2005), deveriam ser
exibidos em todo o mundo em rede nacional todos os dias da semana, para que
houvesse uma comoção mundial e quem sabe, conseguisse mudar a mentalidade de
muita gente. Quando assisti esse documentário, me senti muito mal, me senti um
verdadeiro lixo. Tentei por um tempo me adaptar ao vegetarianismo, mas foi
impossível. Infelizmente ainda faço parte de toda essa crueldade. Fanzines/gigs/bandas: já fiz fanzines, comprei fanzines, troquei fanzines, vou em gigs, já
organizei gigs, já toquei em gigs e ainda filmo gigs... enfim, para mim foram e
ainda são experiências que me dão enorme satisfação.
Earthlings é bastante
comovente, todo carnívoro deveria assistir, assim como a “Carne é Fraca” e
muitos outros. Ainda tratando sobre fanzines, O Abdução Extrema Zine foi, e continua sendo, uma das melhores
publicações independentes já feitas no underground, na minha opinião,
claro. Ano passado você chegou a publicar uma edição curiosa, debatendo sobre a
violência sofrida pelos professores nos espaços escolares. Basicamente você
entrevistou professores ligados à cena Underground punk/metal. Quais foram suas
motivações para realizar esse trabalho?

É algo bastante
complexo e com diferentes pontos de vista, pois os problemas são muitos e
extrapola o espaço da educação formal e da família. Lógico que essa violência
da qual você fala faz parte da realidade de muitos professores nas nossas salas
de aula, infelizmente. Porém, quem produz todo esse ímpeto? Que violências? Quais
os fatores sociais, históricos, culturais, geográficos que influenciam? É uma
questão política. Portanto, educação é sempre um desafio. Estamos falando de
subjetividades, no plural. Veja, passa ano, sai ano, por que o professor é tão
desvalorizado, pensando aqui no Brasil? Hoje, por exemplo, vemos essa forte
polarização que produz o professor como um “doutrinador”, um “fanático”, um “esquerdopata”,
um “preguiçoso” etc. Ora, de forma representativa, a educação pode servir como
produtora de diferentes sujeitos. Pode ser, inclusive usada como espaço de
dominação e legitimação da violência nas suas diversas formas. Acredito também,
que ela pode ser pensada como potência revolucionária e transformadora de si e
do outro. Educação é trincheira, espaço de luta, de confronto. Dando
continuidade, algo que sempre me intrigou no underground foi a importância
exagerada que muitos dão com relação à movimentação das bandas, das gigs e dos
lançamentos. As velhas panelinhas, quase exclusivamente focada nas bandas. Definitivamente
a produção independente não se resume a isso. Temos uma significante criação de
zines, livros e filmes com diferentes temas. Existem muitas pessoas tentando
mover algo diferenciado. Na sua opinião, como podemos avançar nesse sentido?
Sempre tive a mesma
percepção, mas querendo ou não, tudo gira em torno da música. Eu
particularmente sempre procurei abrir espaço para selos e zines nos meu zines,
sempre fiz entrevistas com selos e zines! Acho que a melhor forma de avançar
nesse sentido, é justamente essa, abrir espaço! Parabéns e obrigado a você por
estar colaborando com esse avanço.
Eu que agradeço pelo
apoio e parceria! Além do Abdução Extrema
Zine, gostaria que você falasse também sobre seu trabalho com a Brutal Alien Videos. Eu amo vídeos!!!
Adoro assistir, produzir etc. Gosto,
principalmente dos vídeos caseiros, amadores com aquelas imagens desgastadas,
desbotadas. Qual era o seu desejo quando você começou? Como foi a transição do
VHS para o digital?

Nos seus zines,
principalmente nos mais antigos, o tema ufologia era algo frequente. Você ainda
pesquisa sobre esses assuntos, sobre a vida extraterrestre?
Eu sempre fui
interessado no assunto, mas não pesquiso mais sobre isso.
Ainda tenho bastante interesse! Bom, última
pergunta, clichê do zine. Você ficou sabendo que um imenso meteoro vai cair no
planeta terra e destruir tudo, diga os três últimos plays que você ouviria?
Flexy EP “Never Healed” do Heresy, EP “Nothing is Hard in this World…”
do Lärm e lado B do “Scum”, Napalm Death.
Salve Ocupa Noise Guerrilha zine,
ResponderExcluirSalve meu velho e querido amigo Luís Mosh, entrevista foda, satisfação total meus irmãos apreciar um material de extrema qualidade igual a este.
É noise meu amigo, valeu pela força!
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