quinta-feira, 10 de maio de 2018

Entrevista com Marcelo França do Noise Machine




"Marcelo França, conhecido também como Mosh é editor do Barulheira Extrema Webzine, nasceu em 13 de abril de 1971 na cidade de São Gonçalo, região metropolitana do estado do Rio de Janeiro. Começou a ouvir rock/metal no início dos anos de 1980 e som mais extremo como Death Metal, Grindcore, Goregrind em meados da mesma década. Por volta de 1989 fundou a banda de goregrind Gore, umas das pioneiras do estilo no Brasil. Em 1993 foi morar na cidade de Juazeiro, interior do estado da Bahia, onde  fundou o projeto Noise Machine  um dos precursores do gênero harsh noise aqui no Brasil e na América do Sul. Além do Barulheira Extrema Webzine e o Noise Machine, comanda projetos anti musicais como Condiloma (Goregrind), Under The Pain (Drone Doom), Frowzy (Noisecore Industrial), Enxame (Harsh Noise Wall) e o Exhaust Valve Records entre outros projetos".



Saudações meu amigo Marcelo França! Bem, primeiramente gostaria de agradecer pela participação e dedicação do seu tempo para responder essa entrevista. Conte-nos um pouco sobre seu primeiro contato com o underground punk/metal/noise até os dias atuais. Sei que você foi um dos fundadores da fudida banda Gore quando você morava Rio de Janeiro!

Marcelo: eu que agradeço meu amigo Wescley pela oportunidade. Meu primeiro contato com o underground foi ainda na minha cidade natal São Gonçalo/RJ. Foi algo espontâneo, comecei ouvindo rock muito cedo quando eu tinha 10 anos de idade, isso em 1981, e o lance foi piorando com o tempo kkkkk, sempre em busca de sonoridades mais pesadas e extremas. Até que lá em 1984 tive contato com o punk, thrash, death e tempos depois com o grind, isso já era por volta de 1986 e até então sozinho na minha, comprando discos, revistas e essas coisas. Até que em 1988 conheci os caras do Necrofilia e da amizade com Marçal e Bruxo surgiu o embrião do Gore, que se chamava Deficiency Cerebral. A formação era eu (bateria), Marçal (baixo e vocal) e Bruxo (guitarra). Bons tempos! E até hoje estou aí curtindo, produzindo os meus barulhos, fazendo grandes amizades e isso que importa.

Agora, gostaria que você falasse um pouco sobre o Noise Machine, que foi um dos primeiros projetos do noise aqui no Brasil, juntamente com W/W? e o Caos Sonoro, não é? Como era fazer harsh noise nos anos 90?

Marcelo: O noise machine surgiu da necessidade de se fazer algo pelo underground. Vim embora do Rio para a Bahia em 1993 e para mim foi traumatizante. Porque lá no Rio tinha praticamente tudo para se fazer, ainda mais para um moleque como eu, com 21 anos de repente vir embora para um lugar pequeno, cidade pacata do interior baiano, foi um tremendo choque. Mas ergui a cabeça, voltei aos contatos e em 1995 idealizei o Noise Machine. Nos anos 90 eu fazia tipo uma colagem de ruídos desconexos, divulgava essa porra como harsh industrial noise, mas não era bem isso kkkkk, mas enfim, era barulho anti musical. Era precário demais fazer som nos anos 90, ainda mais do it yourself, sem grana nenhuma. Tinha que pensar em como ia fazer um determinado ruído, o que seria usado, pois não tinha condições nenhuma de entrar em estúdio e aqui nesse tempo nem estúdio existia kkkkk. O que tinha era uns quartos velhos cheios de bagulhos que o povo chamava de estúdio e tentavam gravar forró kkkkk, tô fora! Então era no meu quarto que eu produzia os barulhos das mais variadas maneiras.

Quais são suas inspirações? É nítido que o Noise Machine tem uma sonoridade exclusiva, singular, porém quais são suas influências e o que te motiva, quais são seus desejos quando você produz seus barulhos? 

Marcelo: Cara, me inspiro no japanoise, sem sombra de dúvida. Admiro e sou fã de barulheiras tipo Merzbow, Incapacitants, Hanatarash, Hijokaidan, C.C.C.C., Astro, MSBR, Aube, Government Alpha, Masonna, KK Knull, Solmania, The Gerogerigegege, entre outros. Tipo, nesse momento da minha vida estou desempregado a mais de 1 ano e isso influencia pra caramba na hora de fazer meus barulhos, ponho para fora a raiva que sinto dessa bosta de país, de você ter experiência em uma área de trabalho e é como se não tivesse porra nenhuma, porque a dificuldade é grande.

Todos que você citou acho foda, tirando os trabalhos novos do Merzbow que são chatos pra caramba kkkkkk. Você já fez alguma performance ao vivo? Se não, pretende algum dia?

Marcelo: Fiz uma gravação em vídeo para o grupo Música Insólita (do facebook), tocando em tempo real. Dessa gravação vou lançar um cdzinho do Noise Machine intitulado live for nobody, foi isso que fiz kkkkk. Mas não tenho muita pretensão em fazer apresentação ao vivo.

Performance foda aliás [risos]. Atualmente vejo na "cena" denominada por muitos como noise, uma busca ou um esforço de alguns em dar certas representatividades ao noise como música barulho, música experimental, noise experimental e tantas outras denominações possíveis e mais fáceis de serem assimiladas. Penso que tais capturas são forças que podem engessar as potências revolucionárias contestatórias do noise underground minoritário. O que você pensa sobre isso? Noise ou música experimental?

Marcelo: Hã! Kkkkk. Penso que gostam de invencionices, textos mirabolantes para apresentar um trabalho focado em ruído e quando você vai ouvir o tal trabalho... é melhor ficar lendo o texto kkkkk. Curto música experimental, mas tem hora para ouvir, não é toda hora que estou disposto. Mas noise não, ouço direto, é um lance que já está cravado no meu ser e vai permanecer para o resto da minha vida. É bem clichê isso que falei, mas é a pura verdade kkkkk.

Para você, quais são as origens das primeiras movimentações do noise?
Marcelo: Sem dúvida o Luigi Russolo é o principal culpado disso. Tem o John Cage, Boyd Rice, Lou Reed com aquele álbum Metal Machine Music, o Throbbing Gristle, japanoise, noise italiano. Acho que esses foram os pioneiros da parada.

O harsh noise tem uma sonoridade de difícil aceitação, mesmo por muitas pessoas que gostam de sons mais extremos como o grind, noisecore, por exemplo. Muita gente torce o nariz para o estilo, já vivenciei isso várias vezes quando toquei com o AVN. Costumo dizer que o harsh noise é espanta bolinho em certas gigs heheheh. Por outro lado, vejo nele uma grande potencialidade de criação, de experimentação. Qual sua opinião sobre isso?

Marcelo: Harsh Noise para uma pessoa que nunca teve contato é algo desconfortante, insuportável, barulhento (lógico kkkkk) e isso que é foda. Já apresentei meu material para algumas pessoas que nunca ouviram e a maioria detestou, alguns poucos que curtiram de cara. Quando fiz um split com uma banda de thrash metal, as pessoas que curtiam thrash falavam que o lado da outra banda teve problema no áudio kkkkk e os cara da banda thrash tinham que explicar que era aquilo mesmo, li cada comentário kkkkkk.

Magnífico, cd arranhado [risos]. O que você me diz de tais falas: “modinha, fase adolescente, algo passageiro, não acredito que alguém possa escutar isso”?

Marcelo: Cara, já tenho 47 anos de idade e até hoje escuto isso por ouvir metal ou rock kkkkk. Imagine as pessoas que gostam de falar isso se soubessem que eu ouço barulho? Porra! Não entenderiam nada. Mas não to nem aí, continuo ouvindo essas desgraceiras sonoras e vou morrer ouvindo.

Materiais físicos ou downlods? Zines de papel ou webzines? Comércio ou pirataria?

Marcelo: Tudo isso aí é válido para divulgação de material.

Você já está envolvido com o underground extremo a um tempo, o que você pensa sobre o dito “radicalismo coerente” muito comum nos anos 90?

Marcelo: Acho normal. Nunca fui radical, mas entendo certos pontos desse radicalismo, acho até necessário para se ter uma cena real e sem modistas ou embalos, o cara que tá ali porque acha legal, saca? Kkkkk, esse daí com o tempo some.

Cara mais uma vez muito obrigado pela entrevista. Bom, terminando nossa conversa aqui, você ficou sabendo que um imenso meteoro vai cair no planeta terra e destruir tudo, diga os três últimos plays que você ouviria?

Marcelo: Carcass – Reek Of Putrefaction, Napalm Death – Mentally Murdered e Merzbow – Tauromachine. Difícil essa pergunta! Mas são esses daí.

P.S.  Tira esse do Napalm por favor kkkkkkk

Ouça Noise Machine aqui:


Exhaust Valve Records: 



Obs: imagens cedidas e autorizadas pelo entrevistado. 


3 comentários:

  1. Foda! Zines são extremamente necessárias para que as ideias sejam transmitidas através da cena, parabéns a ocupa noise guerrilha Zine por essa entrevista foda com uma lenda viva do underground!!!

    ResponderExcluir
  2. Noise Machinho

    https://www.facebook.com/carbonkid.eightseven.94/posts/483280950038123?__cft__[0]=AZXY44DjJwz_oLrnSblw2M-_QfYzlAiQrjkYfdVyxpu_NpNXX3ohE5wmYyNFCrqaIWqkbodh8Pbaf-z55A1Wl7B0tSt46H69s6RX6yx50c6ohzSvdIVs9Uwy5NG_jDhEmCATv0o129JNnAAfn4__Z2FT&__tn__=%2CO%2CP-R

    ResponderExcluir